Massive Attack no MEO Kalorama: Uma experiência cinematográfica e reflexiva

Grant Marshall dos Massive Attack, a atuar no MEO Kalorama, 2024.

Massive Attack no MEO Kalorama / Mike The Axe

Os Massive Attack transformaram o palco MEO numa experiência cinematográfica e reflexiva. Com convidados especiais e visuais impactantes, a banda não se limitou a apresentar música, mas criou uma obra de arte total que desafiou o público a refletir sobre temas atuais e complexos.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024, às 9:30
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Às 21h16, no palco MEO, os Massive Attack, conhecidos pela sua sonoridade poderosa e atmosférica de trip-hop, ofereceram uma experiência que foi muito mais do que um simples concerto. Vestidos de preto e acompanhados por convidados especiais como Elizabeth Fraser e Young Fathers, a banda transformou o espaço num ambiente imersivo, com visuais marcantes e uma narrativa audiovisual intensa.

Cada música foi acompanhada por mensagens de reflexão e críticas incisivas, abordando temas como conflitos armados, a pandemia de Covid-19 e o impacto crescente da inteligência artificial. Nos ecrãs, eram projetadas imagens poderosas e perturbadoras, como rostos de figuras controversas, números que evidenciavam a destruição na Palestina e na Ucrânia, e críticas a fenómenos atuais como as fake news e os perigos da tecnologia avançada, incluindo a Neuralink de Elon Musk. Em certo momento, o público foi até alvo de identificação facial e rótulos sociais, o que reforçou a sensação de vigilância e controlo presente no espetáculo.

Musicalmente, a fusão de sintetizadores, percussão e baixos pesados deu vida a clássicos como "Angel", com Horace Andy, "Unfinished Sympathy", com Deborah Miller, e "Teardrop". A interpretação de "Song to the Siren" por Elizabeth Fraser, antiga vocalista dos Cocteau Twins, foi um dos momentos altos, com a sua voz a ressoar de forma angelical, mesmo que o tempo tenha suavizado a sua característica glossolalia. A banda surpreendeu ainda com uma versão de "ROckwrok" dos Ultravox, acompanhada por uma citação de Max Stirner, que provocou uma reflexão sobre individualismo e controlo social.

Os Massive Attack deixaram claro que isto não era apenas um concerto, mas uma verdadeira obra de arte. Através da combinação de som, imagem e mensagem, o grupo criou um espetáculo que não só cativou, mas também desafiou a perceção do público sobre o mundo à sua volta. Desde a exibição de rostos como Saddam Hussein, Bin Laden, Putin e Netanyahu, até às imagens de guerra e destruição, os Massive Attack fizeram mais do que tocar música – levaram-nos a questionar, a duvidar e a refletir sobre o estado do mundo.

No final, Robert Del Naja, em português, expressou o seu apoio à Palestina, recebendo aplausos entusiásticos. A noite terminou como começou – com a dúvida como protagonista, lembrando-nos que a incerteza e a reflexão crítica são essenciais para a nossa humanidade. Os Massive Attack continuam a ser uma força inigualável na música contemporânea, não apenas pela sua habilidade musical, mas pela capacidade de transformar os seus concertos em experiências que deixam uma marca duradoura.

Última atualização: sexta-feira, 30 de agosto de 2024, às 13:41

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